Os embates ideológicos em diversos campos da dinâmica social produzindo abismos
E em silêncio, no gabinete modesto de trabalho, entre livros e anotações, passamos a refletir sobre as angústias humanas, assinalando tantas vidas no mundo.
Não há um só lugar na Terra onde a dor não tenha chegado sob embalagens diversas.
O grito dos excluídos do bolo da riqueza da pátria, a vagarem quais zumbis pelas praças e ruas apinhadas de gente sorridente.
Os marcados por variados estigmas corporais, ocultando dos demais suas limitações, na busca por reconhecimento social.
A jovem que se descobriu gestante de uma hora para outra, sem que o companheiro imaturo desse importância ao fato, tomando rumo ignorado para não amadurecer na paternidade não planejada.
O espectro da fome, que invadiu esse ou aquele lar, outrora abastecido e presentemente desertificado da esperança e da fé.
Quantos, quantos indivíduos, atualmente buscando ajuda psicológica ou psiquiátrica para tormentos íntimos que nem mesmos eles conseguem definir onde nasceram e porque cresceram tanto na intimidade emocional de cada um!
Os fóruns e cortes de justiça, onde famintos por reparação aguardam despachos e sentenças favoráveis, que lhes possa amenizar os prejuízos causados por outrem.
Aqueles cujos exames apontaram a enfermidade temida, qual se no laudo do laboratório estivesse lavrada uma sentença fúnebre.
Recordei dos pais amorosos, que apesar dos investimentos feitos na pauta do amor e das renúncias não conseguiram evitar que os filhos fossem cooptados pelo crime e pelo suborno.
Chorei diante da velhice desamparada e da infância e juventude sem rumos, perguntando a Deus porque se deixa a matéria prima da sociedade ao abandono e onde foi que passamos a admitir que o velho é sucata na família?
Recordei a agonia dos que atravessam o escuro labirinto das teratologias mentais, impossibilitados de vazarem as próprias necessidades, prisioneiros de um estranho mundo em convulsão interior.
Refleti sobre uma sociedade cheia de tecnologia na área da comunicação individual e coletiva, e cada dia tem mais gente reclamando da solidão.
Busquei ofertar solidariedade à mulher ferida nos sentimentos, após se dar a um homem em total confiança.
Igualmente, observei homens agoniados e feridos por dentro, ao surpreenderem suas parceiras na rampa das alucinações carnais.
Os embates ideológicos em diversos campos da dinâmica social, produzindo abismos entre irmãos consanguíneos e muros de Berlim intransponíveis entre amigos de infância.
Como é possível assistir uma sociedade que ri e se diverte em programas de auditório, sob os holofotes da mídia massificadora, enquanto além das paredes luxuosas o choro da viuvez, o pranto salgado da orfandade e a saudade dorida tateiam a lousa fria do sepulcro, buscando entender porque o ente querido foi arrancado da vida tão cedo.
Gente agitada. Pessoas paralisadas pela ocorrência de tantas tragédias.
A bala perdida que encontrou na sua trajetória desvairada a adolescente sonhadora, calando seus sonhos.
A impunidade da autoridade pública, que debocha da justiça, e nas grades fortes o homem que simplesmente lutou pelo pão em favor da família.
A super cultura daqueles que percorreram todos os degraus possíveis do saber, desde a escola simples do bairro até a universidade famosa. E estes laureados renteiam diariamente com o condutor da carroça ou do carro do ovo, da vendedora de roupas ou de perfumes baratos, invejando quem lê a manchete do jornal ou manuseia o tablet em busca das últimas notícias.
Essas digressões me impuseram lágrimas que deixei cair, buscando entender tanto paroxismo numa sociedade que se ufana de cultivar algum tipo de crença ou fé, devassando o espaço infinito em busca de sinais de civilizações extraterrestres.
Pousa com audácia em outros planetas. Investe fábulas de recursos em armas e mísseis, drones e artefatos de eliminação em massa, mas alega nunca ter recursos para a escola modesta, a maternidade salvadora ou o albergue para acolhimento dos sem-tetos nas madrugadas frias.
Temendo que minhas reflexões tão difíceis me tirassem do eixo do equilíbrio, busquei a prece e a ela me rendi como lixívia refrescante de minha combustão íntima.
E me pareceu, outra vez, escutar a voz do doce Rabi, frisando que Seus discípulos seriam reconhecidos por muito se amarem.
Constatei que acima das misérias humanas, a força do amor paira como tábua de salvação para todos nós, os que perdemos momentaneamente a iniciativa de ajudar, perdoar e renunciar.
Intoxicados por uma cultura que nos impôs a indiferença pelo outro, em muitos casos, fechamos os olhos para os quadros chocantes da realidade, optando pela esteira da ilusão ou pela tela plana da fantasia virtual.
Achamos que o problema, aliás problemas, não são de nossa competência.
Silenciei.
Amigo da senda, amiga de lutas evolutivas, se em tua alma a magia do Natal penetrou e te comoveu de alguma forma, rompe teu silêncio e abandona a zona de conforto, assistindo alguém em nome D’Ele.
Dá um copo de água ao sedento ou estende um pedaço de pão ao faminto.
Um sorriso à pessoa em agonia e talvez retires da cabeça dela a ideia de suicídio.
Chamado a opinar sobre essa ou aquela questão, sê tu quem injeta equilíbrio e pacificação em partes prestes a declarar guerra.
Convidado a falar, seja teu verbo pacificador.
Obrigado ao silêncio, mergulha na estesia da prece.
Nunca admitas que tudo está bem e sim que tudo pode ser melhorado.
Tem muita gente vibrando pela noite escura.
Sê aquele que acende a aurora em almas turvas.
E se te apedrejarem nas estradas do mundo, ferindo-te a sensibilidade, recorda D’Ele, que optou pelo martírio em silêncio, carregando a cruz das nossas infâmias, a retornar três dias depois do sepulcro para nos ofertar a paz, que nunca mais nos deixou.
Para o mundo, não pode haver mais arrebatadora mensagem do que a vida D’Ele.
Marta
Salvador, 19.12.2022
Centro Espírita Caminho da Redenção
Mansão do Caminho
Psicografia de Marcel Cadidé Mariano
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