O momento mais significativo e impactante na trajetória do Espírito é quando este desperta para sua própria maturidade.
Ao longo de eras incontáveis realiza, dentro e fora da argamassa orgânica, seu garimpo de valores e sua semeadura de ações, que redundam em reações na esteira da evolução infinita, mas quando soa em seu relógio íntimo o instante da percepção de si mesmo e a tomada da responsabilidade de viver diante da vida, o ser passa a ser o fiel condutor da própria marcha evolutiva.
A criança perdida é encontrada e amadurecida pelo fragor das experiências vividas.
A culpa existencial se dilui, desidratada na intimidade profunda, permitindo que o ser reflexione com consciência lúcida sobre as próprias escolhas.
A dor faz-se ferramenta de aperfeiçoamento.
A morte corporal nada mais é do que fim de uma aula, com retorno do aluno para o verdadeiro lar, onde passa em revisão o que fez do período de exílio.
Os embates interexistenciais se fazem páginas de comovedora beleza, de onde a alma retira lições de alto valor para sua marcha ascensional.
Somente agora, quando a religião se está permitindo fazer ponte com a ciência, convidando a filosofia para equacionar o ser em sua essência e elucidar sua passagem por múltiplas expressões evolutivas, o homem, aqui entendido no sentido amplo de humanidade, começa a vislumbrar que a parte está no todo e o todo não passa de aglutinações das infinitas individualidades, todas sedentas de progresso e crescimento na direção da grande luz.
O verme sonha com o brilho das estrelas. A semente silencia na cova escura, buscando romper o chão para alcançar a expressão grandiosa no vegetal adulto.
O ovo minúsculo será constrangido a desaparecer, dilacerado em sua cutícula para libertar o voo da ave ali encerrada.
No hominal, a maturidade surge no despertar da observação e acrisolamento dos valores profundos do ser e do existir.
Percepção de que tudo decorre de uma causa maior.
Consciência de que leis inderrogáveis regem a vida, por mais insignificante que ela possa aparecer.
Numa gota de chuva, se esconde um universo em miniatura.
Numa lágrima, pode-se encontrar mil motivos para se viver.
Momentos alegres se fazem fugazes, sucedidos por demorados anos de provações e testemunhos, de onde, invariavelmente, a consciência surgirá mais amadurecida, fortalecida para novos tentames evolutivos.
Coisa alguma regida pelo acaso.
Nenhum evento humano ou espiritual divorciado das divinas leis.
A beleza passa a ser da essência, sempre em contínua metamorfose, e não mais da aparência, rutilante num instante e decrépita no minuto seguinte.
A maturidade permite melhor seleção dos ingredientes da vivência, autorizando o ser a deliberar com melhor juízo de valor o que pode e o que deve fazer nas trilhas da própria ascensão.
Sua concepção da divindade, agora lapidada pela maturação consciente da marcha, se lhe afigura diferente do violento senhor dos exércitos, o cabo de guerra sanguinário das religiões avoengas, alterado para uma inteligência todo amor, perfeição e justiça equânime.
Se estiver mergulhado no mundo, busca Deus.
Na convivência com o outro, enxerga Deus.
Se mergulha nas inadiáveis reflexões, descobre seu Deus profundo.
Deus, somente Deus! Maduro, já não vive para si. O Cristo nele atuante amplifica-se, fazendo-o instrumento da beleza e da perfeição.