Desejos e sonhos simples fazem parte do imaginário de milhões

DESEJOS & SONHOS

Enquanto atravessa as estradas do mundo, a grande maioria das criaturas humanas sequer cogita de anotar as inúmeras bênçãos que vai defrontar em plena marcha.
Deita-se cada noite e levanta-se cada manhã de maneira maquinal, ignorando quase que por completo o gesto da gratidão e a reverência aos fartos mananciais da vida.
A água que verte da torneira ou aquela que asseia o corpo no banho prazeroso. O copo d’água logo cedo e o pão amanteigado que nos aguarda sobre a mesa.
O café forte e a tigela de leite, que a vaca forneceu sem inquirir quem ia sorvê-lo.
De maneira geral, o trabalho com que cada um se sustenta materialmente no mundo se constitui numa bênção que alguns só valorizam quando se veem projetados no desemprego. 
Tem muita gente reclamando dos horários, da carga excessiva de serviço e do trânsito infernal que se enfrenta a cada dia para sair de casa e atingir a repartição de serviço. E no fim do mês, quase sempre os vencimentos não dão conta das faturas e dos boletos que chegam impiedosos, quais vampiros, sedentos pelo sangue de uma bolsa anêmica de hemácias e plaquetas.
A jornada que se estende além do final de semana, particularmente nos grandes centros de consumo onde, em meio a períodos próprios do ano, a pretexto de alavancar as vendas minguadas, o serão se faz além de oito horas de trabalho  por dia, carreando fadiga e estresse em desfavor da saúde.
As férias profissionais que nunca chegam, e quando surgem parecem evaporar apressadas, qual vidro de acetona deixado ao relento, sem a proteção da tampinha.
E assim, uma larga existência é consumida no balcão ou no escritório, no almoxarifado ou no pátio de estoque, onde o servidor, metido num uniforme, sua e desidrata suas energias corporais, buscando saldar as próprias dívidas e fazer reserva de alguma gordura financeira para esse ou aquele pequeno sonho.
Uma viagem desejada.
Um passeio àquele recanto afamado de praias desertas.
A aquisição do imóvel próprio, estancando a sangria mensal do aluguel pago a terceiros.
O veículo que facilite o deslocamento para o lazer e para o trabalho.
Desejos e sonhos simples fazem parte do imaginário de milhões de operários da construção civil, tanto quanto do servidor do comércio ou da indústria pesada.
E em meio a lutas e dificuldades de vulto, cada um busca fazer seu ninho com algum afim, edificando a casinha onde os filhos surgem por bênção divina.
E o sonho parece se dilatar, envolvendo os descendentes. 
Busca-se evitar que os filhos tenham as mesmas dificuldades que seus pais tiveram na vida. 
Luta-se, com muito sacrifício, para que os mesmos ocupem bancos escolares e cursem graduações em universidades, alcançando carreiras que os genitores buscaram e não conseguiram fazer.
Todos os dias se tem notícias de lavadeiras humildes que conseguiram pagar os estudos de filhos médicos. Zeladores modestos de edifícios residenciais que foram à formatura de filhos advogados. 
Merendeiras que choraram muito até perceberem suas filhas juízas ou enfermeiras.
E chega um tempo que as mãos operosas de outrora começam a vacilar na execução de tarefas simples. Copos que caem sem controle, se espatifando no chão. 
A vista turva, a fadiga crônica, os órgãos internos que já não toleram tudo e fazem birra dentro da gente, exigindo o chá ou a cápsula contra azia, o remédio contra a enxaqueca e o calmante dos nervos em frangalhos.
Em muitos lares, os netos começam a povoar a casa, como lufada de ar fresco em porão bolorento, injetando alegria em avós cansados de guerra.
Batalhas da sobrevivência.
Lutas intermináveis para se manter no mundo.
Fadigas uma atrás da outra, buscando não desabastecer a geladeira e não privar os comensais do lar da fatia de pão e do pacote de bolacha.
Alguns se dão conta da falta de tempo para investimento em outras áreas do aperfeiçoamento incessante.
Não puderam frequentar um templo religioso com a regularidade desejável, comungando de instantes de fé e estesia espiritual.
Nunca foram a um clube, interagir com amigos e colocar as ocorrências do dia em debate do grupo.
O circo chegou, armou sua tenda colorida, fez o espetáculo e foi embora.
O zoológico não foi visitado, o jardim botânico idem, a feira literária, o show do cantor ou da intérprete admirada.
O ganha-pão se nos afigurou um grilhão do qual não foi possível a fuga, impedindo ou dificultando o acesso a outros setores da vida em comunidade.
A velhice, com toda a sua carga de limitações orgânicas e diminuição da agilidade chegou, trazendo sua fatura dos anos vividos.
Impossível retroceder para refazer estradas percorridas.
Pontes atravessadas já não existem mais.
O corpo está cheio de marcas, a alma povoada de sonhos e os olhos represam lágrimas que foram contidas para não se aparentar fragilidade, covardia, medo.
Entre verdades e mentiras, muita gente chegou ao crepúsculo da existência aos pedaços.
Está vivo e só Deus sabe como.
Em desfrutando da convivência com alguém portador de uma história de vida tão rica, reserva alguns breves minutos para escutar esse acervo precioso de testemunhos.
*Silencia essas pegajosas redes sociais e dê a si mesmo a oportunidade de anotar em teu caderno íntimo esse ou aquele lance palpitante de quem atravessou muitos desertos e não desistiu do oásis.*
Alguns sentem muita falta dos afetos que a morte lhes furtou da convivência. Outros, tiveram sonhos esmagados e frustrações contínuas, tendo que lutar contra pesadelos monstruosos na ribalta da existência.
Se a foice afiada de Tânatos não te alcançar antes, essa quadra da vida hoje será teu amanhã logo mais. 
E igualmente sentirás imensa carência de afeto, uma boa conversa e uma caneca de café quente, como a diminuir a inclemência do inverno da saudade, que à semelhança de uma borrasca gelada, não poupa ninguém que esteja no caminho sem agasalhos.
Até hoje tenho saudades do meu cajueiro, que plantei quando criança em minha eterna Parnaíba. 
E vez por outra, me vejo sob a copa de suas folhagens, recordando as lutas vencidas e retemperando as forças para os desafios que ainda estão por vir.
E se te faltarem as energias indispensáveis aos embates do cotidiano, medita no que faria Jesus se estivesse em teu lugar. 
Toma tuas ferramentas e volve, otimista e ditoso, ao campo vasto de tua semeadura.
Por ora, é o de melhor que posso te aconselhar. 
O mais, Deus proverá!
Marta e Humberto de Campos
Serrinha, 19.04.2023
Centro Espírita Caminho da Redenção 
Mansão do Caminho 
Psicografia de Marcel Cadidé Mariano
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