TEMPOS DE ESCOLHA
Marta
Sociedade exigente e caótica exige urgente detox digital
Encurralados por uma sociedade exigente e caótica, o indivíduo passou a ter inúmeras necessidades, algumas fictícias e outras reais.
Deambulando em meio de sistemas midiáticos que inculcam novos padrões de beleza e ditam regras no vestiário e no comportamento, o ser mostra-se desconfortável e ansioso quando não consegue atender as demandas virtuais, se permitindo parecer com as celebridades que admira ou atender tantas demandas dos influenciadores digitais.
Enquanto alguns não possuem mais espaço nos armários e closet para a guarda de tantos vestuários, possuindo um só corpo, incontáveis transitam envergando mulambos e pedaços de imundície.
Pés que parecem reclamar o último modelo de calçado de grife, e do lado os que arrastam chinelos improvisados, feitos de garrafas pets.
Imensos casarões criam bairros de alto poder aquisitivo, onde o metro quadrado vale um carro de luxo, e bem no fundo desses muros imensos, palafitas e favelas enxameiam as grandes urbes, onde cada um faz seu puxadinho, ali nascendo e ali morrendo.

A cada lançamento da indústria automobilística, anunciando o modelo mais avançado, saturado de tecnologia a bordo, inúmeros possuidores de expressivos recursos financeiros se apressam na aquisição do brinquedo sobre rodas, em visível ostentação do poder de fogo que possuem para adquirir, dividindo ruas e rodovias com carroças miseráveis, sucatas ambulantes e transporte público entupido de trabalhadores e operários.
Mercados lotados de prateleiras cheias de produtos estão divorciadas do poder de poder de muitos, que fitam vitrines e balcões com indisfarçável tristeza no olhar.
Mundo de contrastes chocantes. Terra de nabados, em convivência próxima com réprobos e párias incalculáveis.
Desde a antiguidade, à medida que a civilização foi se ampliando, as necessidades humanas foram surgindo e na sua goela insaciável, foi tragando os invígeis e distraídos.
O próprio discurso religioso dos tempos modernos sofreu implacável alteração, passando a incentivar a prosperidade material como condição inseparável da felicidade emocional, fazendo surgir um fenômeno teológico e filosófico inédito nos anais da cultura religiosa: o materialismo religioso!
A busca de plenitude foi relegada a segundo plano. O deciframento das ocorrências do destino ficou para momento oportuno. A investigação sobre a destinação do ser após a morte foi transferida dos santuários religiosos para o campo volátil das cogitações mentais de difícil abordagem.

E onde se apresentem trabalhadores do bem e apóstolos de um pensamento renovador, não raro a intriga bem urdida anula, a calúnia desidrata, o fake news desmoraliza e o linchamento virtual desmotiva.
Não seja de estranhar que cada vez os espaços, antes ocupados por tarefeiros desinteressados da projeção do ego hoje estão sendo rapidamente preenchidos por salvadores de ocasião, messias bem vestidos e pregadores de facúndia arrebatadora.
Onde o bem não é instalado, a ignorância medra. Terreno que não recebe a semente do trigo, presta-se ao surgimento do joio imprestável.
Tempos de escolhas difíceis.
Jesus ou César?
Deus ou mamon?
A vida futura ou as ocorrências do presente?
Não por outro motivo, houve um instante onde Jesus chamou o colegiado de apóstolos para um repouso das fadigas incessantes, alcançando um lugar deserto para refazimento das forças, conforme anotações do evangelista Marcos, capítulo 6, versículos de 31 a 44.
Em meio aos tormentos da vida agitada e febril de nossos dias, urgente se faz um detox digital, uma faxina de tantas informações consumidas sem tirocínio sobre as mesmas, onde o ser, aturdido, possa se refazer emocional e espiritualmente.
Comungar com o eloquente silêncio da natureza. Escutar seus apelos íntimos, sufocados até aqui para satisfazer o mundo em tresvario.
Lavar os olhos com as lágrimas da emoção, após se reconectar com sua essência.
