VIDA!
Parece não existir fascínio maior que a vida. Seu surgimento, desdobramento e crepúsculo são etapas que, examinadas com diferente olhar, se mostram arrebatadoras.
Da semente ao fruto, quantas etapas percorre a vida?
Da fecundação ao nascimento, inúmeros percalços ultrapassa o ser para surgir no cenário da vida, vestindo carne para o desiderato das pugnas evolutivas.
Mínimo erro de cálculo e esta se estiola. Leve acidente e a indumentária orgânica não vinga. Uma desnutrição mais acentuada e uma teratologia se instala, inviabilizando a funcionalidade orgânica.
E em sentido contrário, fatores conspiram contra o surgimento da vida na sua manifestação biológica e o ser inteligente ressurge, triunfando sobre as vicissitudes e limitações do estojo de ossos.
Um corpo limitado, ocultando um gênio de beleza incomparável. Sentidos em apagão temporário e o ser dotado de aguçada sensibilidade para a poesia ou para as artes.
Dedos atrofiados e pés de bailarino.
Cérebro não completamente desenvolvido, sugerindo graves limitações intelectuais e, ao piano ou ao violino, consegue prodígios de arrebatamento musical.
Como entender o corpo disforme e a alma em plenitude?
Imaginar que da lagarta desprezível surgirá uma falena, carregada de cores e cheia de graça.
Do ninho minúsculo surgem aves poderosas.
A vida e seus encantos, e no reino hominal as surpresas se sucedem sem que seu ilustre inquilino se dê conta na maioria das vezes.
Da fragilidade da criança ao atleta olímpico. Do menino franzino ao homem maduro, vendendo saúde.
Em cada etapa da vida, experiências próprias, ajustadas por uma sabedoria maior.
O período infantil e suas aquisições maravilhosas no seio da família. Nenhuma responsabilidade com o mundo e todos em torno daquele ser frágil, a ofertar brinquedos e risos para garantir seu bem-estar.
O concreto vai se diluindo e surgem os primeiros vagidos de maturidade, cobrando metas, exigindo obediência, planejamento de longo curso.
A escola e seus deveres.
O ambiente doméstico e suas obrigações.
A convivência com estranhos e o respeito a valores diferentes.
O cultivo de uma crença, estabelecendo conexão com o sagrado.
E a ampulheta de Cronos, que nunca cessa, empurra o ser para quadras da vida onde tudo parece desafiador, difícil, extenuante.
A maturidade dos órgãos, reclamando mais espaço. A interação com egos inflados. A não aceitação de nossos próprios limites. As cobranças em derredor de nosso desempenho.
As frustrações contínuas.
O desencanto prematuro.
O canteiro que parecia resguardar apenas flores também tem ferinos espinhos.
*A descoberta tardia de que nem sempre contamos com os amigos, e que alguns adversários são capazes de ensinar mais numa única lição do que largos anos de vida.*
Agregamos sagacidade ao viver, senão corremos o risco de não sobreviver na imensa selva de concreto e vidro dos tempos modernos.
Tempo de disputas.
Muita gente pra mesma vaga.
Concorrência leal e às vezes, desleal.
Faces que nos sorriem num momento e nos negam afeto no minuto seguinte.
Alguém que nos dá a mão, mas não dá o coração.
A terrível sensação de ter sido usado por outrem a quem confiamos os tesouros da afetividade.
O chão que parece nos faltar, o ar que surge contaminado da podridão moral, a ausência de transparência deste ou daquele sujeito, os biótipos do cotidiano que parecem ser, mas não são.
E um acervo extraordinário de experiências nos surge nas trilhas da vida.
Amarguras se misturam com alegrias. Decepções se diluem ao sopro de um amanhecer deslumbrante.
Uma prece e parece que somos a fênix, a ave mitológica que ressurge das próprias cinzas.
A maturidade ensina a pensar melhor. O passo se faz mais lento. A fala se torna mais mansa.
O leão, em muitos casos, se torna um cordeiro. O lobo de outrora se aproxima da ovelha sem ofertar risco.
Os tempos são outros…
Inúmeras lutas e as aquisições parecem escassas. O triunfo externo não equacionou enigmas da alma. O domínio das ciências e a abastança financeira não se fizeram corresponder em serenidade no mundo íntimo.
O passado jaz repleto de lembranças, como uma caixa velha, cheia de fotografias desbotadas. O presente se arrasta devagar, como um relógio que faz pirraça, pendurado na parede ou afivelado no pulso.
O futuro está repleto de interrogações.
Fim da estrada ou recomeço em outra dimensão?
Valeu a pena tantas batalhas inglórias?
Tanta posse externa e um vazio por dentro.
Onde os amores das primeiras horas, o carinho de mãe e o olhar austero de pai?
O lar risonho, o jardim da infância e a turma de amigos. Por onde andarão?
Amigo da senda, não te aconselhes com o desespero nem te matricules na escola do desencanto.
A vida triunfa sobre a morte e se desdobra, infinita, em outra dimensão.
O bem praticado é penhor de segurança incalculável, o favor prestado outrora volta como alegria ignorada e a semente lançada de há muito germinou, se fazendo árvore robusta em teu quintal.
A contabilidade divina te anotou as ações dignas. A matemática de Deus te segue desde o ontem distante. O que esqueceste,
Deus registrou. Teu gesto de boa vontade conspira a teu favor. A criança atendida no passado é hoje sol fulgurante em teu crepúsculo orgânico.
Ora, espera, confia.
Vais viajar daqui a pouco para o maravilhoso país da luz.
Outros já foram antes. Todos que ora te cercam irão oportunamente.
Posso ficar ao teu lado?
Marta
Salvador, 30.09.2022
Centro Espírita caminho da redenção
Mansão do Caminho
Psicografia de Marcel Cadidé Mariano
Leia ainda: Comemorações no dia mundial mostrou importância de repensar o turismo
Siga este jornalista e fotógrafo no Instagran: @jeff_severino
No Youtube também!
Fotos: Divulgação / Jefferson Severino / Assessorias de Imprensa / Arquivos Pessoais
Fontes: Assessorias de Imprensa