Caríssimos escribas e assessores de imprensa:
Tenho acompanhado muito de perto e “cometendo barbeiragens” com estúpidas regras do Google para que consigamos conquistar um espaço, ou melhor, uma fatia no mercado de sites mais acessados do Brasil e do mundo. Não basta mais termos encarado quatro anos de faculdade de jornalismo, mais pós graduação em marketing e publicidade.
Não importa mais a notícia, não importa mais o fato, não importa se o veículo é fidedigno, tanto que à Revista Veja ou a Folha de São Paulo estão imensamente distantes em “likes” ou dito acessos de acordo com o Alexa.com, que mede o fluxo na web. Hoje, a exemplo do face e do insta, o que vale mesmo são as curtidas.
Não são regras do jornalismo, mas sim as regras do Google, que não tem pessoas, ou muito poucas pessoas, são robôs. A gente pode escrever um montão de merda, mas se preenchermos todos os quesitos (uns 14 ou mais), perfeito, nosso texto estará apto com todas as luzinhas verdes acesas.
Eu era feliz e não sabia!
Eu já sou jornalista a mais de 35 anos. Comecei fazendo matérias via telex para o saudoso Jornal do Brasil, no tempo que existiam grandes redações, um barulho infernal, todo mundo fumando e quem não fumava saía da sala tendo fumado uma duas carteiras de cigarro. Fotografias nem pensar, do exterior, via rádio foto que levava a madrugada toda para baixar linha por linha. Notícia factual? Jamais! Quem ganhava de goleada eram as rádios, no caso a Rádio Globo e Rádio Gaúcha.
As fotos estaduais, tudo via malote. Os rolos de filmes preto e branco vinham do interior e a gente tinha que ir para a sala escura, abrir, revelar, e acima de tudo contar com a sorte. Nunca se sabia como os fotografados tinham saído na foto. Nada de câmera automática. Tinha que ver a luz, a fotometria, controle de branco…Tinha que ser bom. Em seguida pegar a lata de filme, rebobinar no mesmo rolinho aberto. Cada giro da manivela significava uma pose num total de 36 poses e, onde a Kodak e a Fuji dominavam o mercado mundial.
Veio as câmeras digitais e comprei a minha primeira, de bolso, a Canon 480, que também filmava mas não gravava o som da filmagem e os computadores não suportavam o tamanho dos arquivos. Vc tinha que ter o CD da câmera pra deixar o vídeo compatível. Coisa de maluco. E lá veio o fax, a web discada, depois a rádio, cabo coaxial e agora fibra, aqui no escritório 200mg de fibra ótica, todavia a maioria dos provedores não se atualiza e a web continua em sua imensa maioria, lenta.
No meu tempo de faculdade tínhamos quatro TCCs e mais a monografia. Optei pela Unisul porque a Federal seguia as regras da Globo e jornalista que se preze não segue esse tipo de editoria. Aqui a RBS impôs isso a UFSC. Agora entra o Google, derrubando tudo e a todos, impondo todas as suas regras. Ou você está dentro ou está fora. Essa é a nossa opção.
Eu, um rapaz semi-novo olho pra traz e sinto saudades, não costumávamos dobrar a coluna e íamos de peito aberto cobrir as pautas, fossem onde fossem. Nada de facilidades ou glamour, coisa que colunista social ama, isso sem falar dos troféus que eles adoram ganhar em festas de gala. Eu, mais uma vez, semi-novo, olho para frente e observo essas regras, que também tento colocar em minhas outras páginas dessas regras, perdendo um tempo absurdo. Me pergunto se vale a pena essa escravidão?
Pergunto se isso que está sendo nos imposto pelo Google é jornalismo e quem de fato está ganhando com isso? A pergunta é fácil de responder, apenas o Google, porque eu, com essas regras, não ganho nada, só perco meu precioso de tempo. É de dar dor de cabeça com tanta idiotice. Se são ossos do ofício, então esses ossos estão duros e chatos demais para roer.
Cabe-nos a pergunta? O que é de fato importante? O fato/notícia ou a versão/regras do Google?
Estou pasmo aqui porque o Google está mandando eu mudar o título da minha NOTA e me obriga a escrever mais de 300 palavras, isso sem falar nos outros 14 quesitos.
Alguém sabe onde compro uma passagem só de ida para Pasárgada? Quero ver se encontro o amigo Manoel Bandeira.
“Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.”
Texto extraído do livro “Bandeira a Vida Inteira”