Atravessando os dois últimos séculos, a humanidade se viu diante de maravilhas tecnológicas sonhadas e teve que enfrentar convulsões sociais inimagináveis.
Ao mesmo tempo que pôde eliminar males que atormentaram o corpo físico em incontáveis séculos de enfermidades cruéis, se observou tragada por novas síndromes, que expuseram suas fragilidades emocionais.
Contabilizou milhões de ansiosos, deprimidos e atormentados das emoções.
Diagramou o solo terrestre, desceu a abismos oceânicos insondáveis, alcançou o pico de montanhas altíssimas e começou a devassar o espaço além da atmosfera, buscando sinais de vida extraterrestre.
Em plena avenida de seus sonhos e utopias, foi atingido por dramas coletivos, onde pandemias e guerras, conflitos armados e o medo se impuseram como fantasmas de sua harmonia cada dia mais frágil.
Garantiu a vida de milhões de nascituros em cirurgias intrauterinas assombrosas e, por fora da piscina amniótica, eliminou incontáveis existências sob a pena de morte e execuções sumárias.
Construiu maternidades e nascedouros para o acolhimento dos que iam viver a epopeia da vida, quase ao mesmo tempo que se fez carrasco dos inimigos políticos ou ideológicos.
Na mesma cartilha de suas razões, cabem os argumentos de sua loucura. Ora religioso fanático, e no momento seguinte herético e ateu.
Consegue promover lágrimas numa película cinematográfica que emociona milhões e espalha a viuvez e a orfandade em campos de extermínio e desespero.
De onde vem e para onde vai esse atormentado filho de Adão?
Produz sinfonias e cava sepulturas. Ama e odeia quase no mesmo instante.
Indiscutível constatar que mourejamos numa sociedade profundamente doente, onde cada um carrega uma ou muitas enfermidades ao mesmo tempo, buscando ocultar suas patologias com os disfarces da conveniência.
O que exibe fora não retrata como é por dentro.
Enquanto milhões lutam para restabelecer o primado da verdade e fazerem fulgurar as claridades de um novo tempo, situando o Espírito como base da existência, além da matéria passageira, outros milhões se opõem, de maneira feroz, contra qualquer alternativa que lhes furte o gozo ilusório, os prazeres fugidios e as sensações corporais.
Se fizeram chumbados em excesso nos apetites materiais e temem perder o que nunca lhes pertenceu.
Tanto para eles quanto para nós, os servidores provisoriamente distanciados do verdadeiro lar, a verdade vem agitando sua bandeira libertadora, tentando hastear sua flâmula no monte mais alto da Terra: a consciência da criatura humana!
É tempo de despertar.
Sair do coma espiritual.
Acordar dessa letargia demorada.
Tomar posse das faculdades outorgadas pelo criador e descer, desassombrado, ao campo das vinhas fecundas, espalhando as alvíssaras da Boa Nova.
No panteão dos missionários e arautos que já estiveram no solo conturbado do planeta, o Sublime Amigo das criaturas humanas se fez e é estrela de primeira grandeza.
Renunciou ao sólio de perene felicidade e veio, em pessoa, conviver com os irmãos de evolução deficitária. Comeu o pão da dificuldade e sorveu o vinho da ingratidão.
Sorriu nas pequenas alegrias e pranteou os Lázaros que morreram prematuramente.
Cultivou a esperança e se fez arrimo dos caídos e dos excluídos.
Com doze amigos, alterou os rumos da história e fixou o amor como base da vida e argamassa dos relacionamentos.
Surgiu no mundo numa estrebaria rústica e saiu do plano físico numa trave de obsessão coletiva.Quando o solo da Terra espezinhada te inquietar, quando a selva de pedra te furtar o clarão das estrelas e a aspereza dos relacionamentos interpessoais te produzir pranto ou dor, lembra-te D’Ele e avança, um centímetro que seja.
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