Clássico francês ganhou versão de Nelson Baskerville e traz no elenco o ator Flávio Tolezanie a atriz Natalia Gonsales
Após temporada de estreia em São Paulo, onde passou pelo Masp e Teatro Aliança Francesa, o Ministério da Cultura e Aliança Francesa de Florianópolis trazem ao estado, nos dias 24 e 26 de abril, a aclamada adaptação teatral de “Carmen” – uma das personagens mais conhecidas mundialmente, tanto nas páginas, quanto nas telas. Carmen surgiu em 1845, do romance de Prosper Mérimée, e já foi levada ao cinema por nomes como Charles Chaplin e Jean-Luc Godard, tornou-se uma das óperas mais populares de todos os tempos, criada pelo compositor francês Georges Bizet. Um legítimo clássico.
A peça será apresentada em duas ocasiões no Estado: em Florianópolis, no dia 24 de abril (quarta-feira) no Teatro Pedro Ivo, e em Joinville, no dia 26 de abril (sexta-feira), no Teatro Juarez Machado. Na trama, Carmen e Dom José vivem uma trágica paixão. José narra o seu amor por Carmen e o motivo que o levou à prisão. Já ela, através da obliquidade dos olhos de seu amor, narra seu ponto de vista em relação a história.
Mas o sucesso da narrativa teve o seu preço. A figura esquiva e inconstante criada pelo autor francês foi perdendo espaço para uma “femme fatale”. Desta vez, o público conhecerá o mundo fascinante e perigoso da boêmia que se opõe às normas burguesas, sem temer a morte, fascinada pelo risco e capaz de prever o seu trágico destino. “Este projeto tem como objetivo a montagem do espetáculo, o resgate dos principais personagens criados por Mérimée para que o público volte a se intrigar e querer decifrá-los. E assim, basear-se na literatura de Prosper Mérimé também permitirá que a construção cênica explore a cultura cigana numa linguagem contemporânea”, conta Natalia Gonsales.
Ainda que seja um clássico, contado e recontado nas mais variadas formas e gêneros, a dinâmica da dramaturgia criada por Luiz Farina, a partir da obra do Mérimée, não admite apenas uma interpretação. Carmen, também como narradora, relata os acontecimentos que levaram à sua tragédia. “E assim, a montagem tem como intuito não apenas encenar essa história, mas oferecer ao público elementos conflitantes e contraditórios de uma mesma realidade contados por duas pessoas com pontos de vista divergentes e que são surpreendidas pelo desejo e pela paixão”, comenta Flávio Tolezani. Mas a pergunta recorrente que todos se fazem ao remontar a peça é: por que fazê-la? O diretor Nelson Baskerville responde: “Para mim, porque pessoas continuam morrendo por isso e precisamos recontar a história até que não sobre nenhuma gota de dor”.
Na atual encenação, que une o teatro, a dança e a música num único espetáculo, elementos clássicos como a dança flamenca, os costumes ciganos, a tauromaquia, entre outros, são ressignificados ao som de guitarras distorcidas, microfones e coreografias para que não reste dúvida de que se repetem as histórias tristes de amor e paixões destruidoras. “O ponto de vista que nos interessa é o de Carmen, a mulher assassinada, dentro de uma sociedade que pouco mudou de comportamento ao longo dos séculos, que aceitou brandamente crimes famosos cometidos contra mulheres como os de Doca Street, Lindomar Castilho e mais recentemente de Bruno, o goleiro. Crimes muitas vezes justificados pela população pelo comportamento lascivo das vítimas, como se isso não fosse aceito em situações invertidas relativas ao comportamento masculino. O homem pode. A mulher não. Nessa encenação Carmen morre não porque seu comportamento justifique qualquer tipo de punição, mas porque José é um homem, como tanto outros, doente como a sociedade que o criou”, completa Nelson Baskerville.