MUNDO DE CONTRASTES
Marta e Bezerra de Menezes
Domiciliado no mundo para a sublime missão da evolução e da melhoria pessoal, não raro o Espírito estremece ante o acervo de testemunhos e aflições que o testam, surgindo, muito comumente, sem aviso prévio.
Falências diversas, a arrastarem o ser para a miséria material. Enfermidades de difícil trato, onde os diagnósticos confusos e a medicação prescrita mais parecem tumultuar a saúde orgânica.
Embates familiares, onde os pontos de vista esposados fazem eclodir atritos e faíscas junto a parentes de trato difícil. Acúmulo de obrigações e deveres na pauta da vida, não permitindo quase nenhum descanso e a sensação constante de tudo abandonar, em nome da própria sobrevivência.
A terrível ausência de amigos e o cerco de implacáveis adversários.
A casa mental em combustão constante, raramente permitindo momentos de lucidez, harmonia e silêncio interior.
Não será difícil constatar que, em tais circunstâncias, costuma o ser abandonar o cultivo do sagrado e buscar forrar-se aos ásperos desafios existenciais, adotando fugas espetaculares.
Todos possuem um ponto de saturação. Há limites emocionais onde o Espírito parece não mais suportar a carga de obrigações e exigências que lhe caem sobre os ombros, e o abandono de tudo se lhe surge como porta libertadora.
Cada vez mais os minutos consagrados ao espiritual estão escassos e as horas surgem reduzidas para tantas demandas impostas pela tirania da vida material.
Deita-se exausto e acorda-se cansado. Na agenda não cabem todos os compromissos do dia.
Certamente que a Terra ainda não se equipara a uma instância paradisíaca, onde o seu inquilino seja servido e não sirva. Suas características morais o definem como mundo de provas e expiações, não raro onde cenas lamentáveis podem sugerir comportamento bárbaro e até primitivo de alguns.
Disto decorre que a vida no planeta está assinalada por embates constantes entre o avançado e o arcaico.
Uma minoria lutando por renovação e uma maioria esmagadora conspirando pela estagnação. Alguns em oração e outros em perturbação. Muitos em lágrimas e do lado os promotores do pranto. Incontáveis em agonias indescritíveis, atravessando rudes experiências e outros em gozos intermináveis, ambiciosos e venais.
A gargalhada parece zombar do grito de dor e a revolta explode ao lado da prece. Mundo de contrastes! Planeta de amargas experiências evolutivas.
Entretanto, nenhuma alma, esteja no corpo ou fora dele, se encontra em desamparo. Nos assemelhamos a um imenso rebanho, onde incontáveis ovelhas estão enfermas, perdidas, receosas do ataque dos lobos famintos.
Pastos verdejantes parecem oásis na paisagem árida, ocultando perigos terríveis. Falsos condutores se apresentam como guias, eles próprios perdidos em si mesmos.
Um cenário desafiador se nos apresenta nesses dias caóticos, onde parecemos folhas desgarradas da árvore mãe, tangidas por águas revoltas do imenso oceano das tribulações terrestres.
Onde localizar refúgio das amarguras? Em que local reencontrar a paz perdida? Por qual caminho seguir, num momento tão dramático quanto esse, onde tudo parece conspirar contra os mais nobres ideais?
Filhos e filhas, nos mantenhamos na inquebrantável certeza de que o Excelso Amigo prossegue zelando pela celeste morada onde estamos todos inseridos. Ele conhece cada um, ciente de suas lutas pregressas e suas experiências futuras. Ser algum ao abandono ou entregue à fúrias caóticas. Paciência e perseverança.
Qualquer instante que surja na tempestade, buscar o silêncio que refaz e a prece que renova. Confiar que estamos todos em luta, não uns contra os outros, mas contra as próprias imperfeições, nossos maiores adversários.
Situar nossas energias na disseminação do bem, sorrir no aparente fracasso e mesmo atingidos nos interesses mais caros, continuar acreditando na bondade, prosseguindo sempre na conquista da verdade e da luz.
Contra nossos ideais atuais de refazimento e educação, temos incontáveis séculos de vinculação ao erro e aos delitos da consciência. Entretanto, o pretérito já foi vivido e o amanhã ainda está por vir, qual primavera risonha em meio à canícula e aridez dos tempos presentes.
Nosso melhor momento: hoje!
Sempre agir, evitando reagir.
Pensar cuidadosamente, para não lamentar tardiamente.
E avançar com Jesus, por Jesus e para Jesus!
Marta e Bezerra de Menezes.
Salvador, 22.08.2024
Centro Espírita Caminho da Redenção
Mansão do Caminho
Psicografia de Marcel Cadidé Mariano
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