NAS ESTRADAS DO MUNDO
Marta
Olhando em derredor de teus passos nas estradas do mundo, não será difícil constatar tuas vantagens em relação à grande mole humana, que caminha aos tropeços.
Por toda parte, gritos de agonia e brados de aflição. Em tua intimidade doméstica, ainda reina relativa calmaria.
Anotas o noticiário deprimente e as tragédias coletivas se sucedem, num contínuo indutor do desespero e da loucura, mas teus dias apresentam-se blindados contra esses infortúnios da alma.
Enquanto milhões estorcegam no desemprego e na impossibilidade de sustento das próprias famílias, teus modestos rendimentos colocam pão e leite em tua mesa a cada manhã.
Anotas os ceifados por tragédias particulares nas ruas. Localizas, pelo olhar, os mutilados, os imobilizados em severas muletas ou aprisionados em cadeiras de rodas, mas teus pés jazem saudáveis, te proporcionando caminhadas e jogos com teus amigos.
Incontáveis criaturas se queixam do estômago, muitos se referem à falência intestinal e outros comentam a avaria dos órgãos dos sentidos, mas em ti mesmo registras esses equipamentos da máquina orgânica ainda em perfeita funcionalidade.
É incontestável tuas vantagens em relação a milhões de prisioneiros das agonias. Sem contar tua liberdade e tuas possibilidades de ir e vir, tens ciência de milhares de encarcerados, cuja movimentação social jaz restringida em sentenças de natureza penal.
Um templo perto de casa te acolhe nos momentos de comungar tua fé, mas incontáveis indivíduos vagueiam entre a incerteza da existência de Deus e o desconhecimento das leis da vida.
Nestas condições, és mais afortunado que o homem mais rico da Terra, que se refugia em luxuosas mansões, cercado de vigias e seguranças, enquanto podes contemplar as estrelas e banhar-se na praia sem medo do assédio das multidões.
Mas, se tens estas e outras vantagens, certamente que a Divindade canaliza em tua direção aqueles a quem o destino não correspondeu às expectativas.
Chegam de toda parte, trazendo espinhos nas carnes da alma e sofrimentos intraduzíveis. Reclamam, choram, se entregaram ao desespero e se fazem portadores de gangrenas da alma.
Alugam teus ouvidos em demorados colóquios de dor e insatisfação.
Exigem tua atenção para as feridas de que são portadores. Enumeram as desvantagens que os infelicitam. Parecem espinhos pontiagudos, ferindo tua sensibilidade.
Recorda Jesus…
Quase sempre cercado de doentes e estropiados. As multidões que O seguiam eram, na sua maioria esmagadora, constituída de dependentes e enfermos, famintos do corpo e da alma.
Após atender a miséria mais abjeta de Israel, Ele buscava refúgio em sítios isolados, montanhas desertas ou vales desabitados. Ali, orava, se abastecendo de novos recursos para atender o mundo em desolação.
Compreensível que de tuas mãos não sairão faíscas luminosas, reabilitando paralisados ou devolvendo visão a pupilas mortas, mas teu verbo sincero e gentil pode fazer alguma diferença em quem te escute por instantes.
Torna-te instrumento dócil nas mãos do Sublime Artífice. Sê uma página viva de esperança para quem já não tem mais o que perder.
Insufla em alguém próximo a vontade de continuar tentando.
Comenta, quando surja a oportunidade, a beleza da existência, a gratidão pelas bênçãos recebidas e que tudo passa mais rápido do que possamos imaginar.
Em cada acontecimento existe um ensino oculto. Cada dor carrega uma lição. A doença carreia uma advertência. A limitação de qualquer natureza favorece o espírito de luta.
Cada manhã inicia teu despertar na prece de gratidão e encerra teu dia no louvor à Consciência Cósmica, que te fez precário instrumento de auxílio aos que marcham em profundo desalento ao teu lado.
Por tua voz, Ele voltará a falar aos caídos. Por tuas mãos, feridas morais poderão ser fechadas e teu exemplo de serenidade a muitos blindará contra as sugestões do suicídio.
Por mais que se te façam difíceis os dias modernos, agradece e avança, espalhando esperança e bom ânimo, coragem e confiança em dias melhores.
Se hoje podes ajudar, amanhã talvez estejas do lado de quem precisa de socorro e auxílio.
Marta
Salvador, 12.08.2024
Centro Espírita Caminho da Redenção
Mansão do Caminho
Psicografia de Marcel Cadidé Mariano
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