Ante a excessiva materialidade do ser humano, a Nova Era é um paraíso teológico impossível
Em teu caminhar no mundo, anotas as imensas dificuldades que grassam em toda parte.
Ninguém blindado contra o sofrimento.
Hospitais abarrotados de enfermos e desassistidos, em ruína orgânica e sob atendimento de funcionários mal humorados, estressados.
Se alguém busca uma repartição qualquer, vê seu direito de peticionar negado ou, quando atendido, é constrangido a se curvar a um largo prazo entre o pedir e o receber.
Famílias em pé de guerra, onde os atritos de opinião ou diferenças ideológicas abriram fossos profundos entre pais e filhos.
Amigos de infância que romperam a amizade por insignificante ponto de vista divergente.
O olhar na política e o imenso mar de desesperança que assalta os mais pobres e vulneráveis.
Os milhões de indivíduos que vagueiam sem teto e sem trabalho.
A fome, que atormenta os estômagos, sem que os pais possuam recursos para espancar a escassez que agride a dignidade da pessoa humana.
O racismo, que causa traumas na vítima. O preconceito de qualquer naipe ou espectro, a revelar a baixeza moral do agressor que, em várias circunstâncias, se acredita blindado contra os tentáculos da lei e sua repressão firmada em códigos de justiça.
Escolas vazias e penitenciárias entupidas de equivocados.
Num cenário que parece desmentir as ufanias tecnológicas de nosso tempo, teu senso de observação não deixa de constatar a profunda fenda que separa as conquistas intelectuais do campo moral.
Parecerá aos teus olhos que, em vez de avançar, o homem regride em ética e emoções, se deixando entorpecer pelo bafio pestilencial da soberba e da arrogância.
Costuma-se afirmar, e com razão de natureza psicológica: queres conhecer alguém? Dar-lhe poder!
Assim que abandona o ostracismo, alguns biótipos se deixam intoxicar pelo fastígio transitório do mundo, olvidando as origens humildes de onde procedem.
Desconhece amigos, nega a família e no pedestal da fama, do poder ou do dinheiro, se homizia com cúmplices e afins, com os quais pavimenta sua estrada de loucura e dissipações.
Abatido por outros, igualmente sedentos de poder, recorda de relance de onde veio e chora amargamente o tempo perdido. Em outro momento, busca lutar contra adversários mais poderosos e se vê por estes esmagado, tombando no suicídio ou se refugiando nas drogas.
E ao teu olhar passam esses carros de Apolo, deixando cinzas e carvão queimado na avenida da insensatez.
A chegada ao cume da montanha tem um preço.
A descida aos abismos oceânicos envolve riscos imensos a oceanográficos e biólogos da vida marinha.
A ascensão nas passarelas da moda já ceifou muitas vidas e no terreno da política de César muitos sucumbiram, triturados pela máquina impiedosa, que não poupa ninguém.
Observas que o mundo regenerado parece mesmo ser uma utopia. O reino de Deus uma miragem.
A Nova Era se te afigura um paraíso teológico impossível de ser plasmado no mundo, ante a excessiva materialidade da criatura humana.
Fala-se de Deus, mas se presta culto mesmo a mamon. O bezerro de ouro retornou com outros adereços, desfilando na avenida da posse ligeira.
O carro do prazer parece um imenso coletivo, onde cabe todo mundo.
As sensações ligeiras são buscadas com sofreguidão, enquanto as reflexões são deixadas de lado, tidas como ranço de religiosos frustrados ou ratazanas de sacristia.
Entretanto, um olhar mais cuidadoso e menos pessimista te revelará que no silêncio e longe de holofotes e flashes, movimentam-se aqueles que acreditam no amor.
Homens e mulheres, crianças e jovens, adultos e anciãos se articulam para resgate da esperança.
Espalham a bondade.
Semeiam a confiança.
Segam a fé em terrenos difíceis.
Não perdem tempo maldizendo as trevas morais de nosso tempo.
Instalam nas paredes comportamentais a tomada da luz divina, com a qual cada um pode fazer claridade na própria alma.
Dialogam com diferentes correntes de pensamento, buscando o que seja comum e deixando as diferenças de lado.
Que religião possuem esses arautos ignorados?
Que importa!
Se estão vinculados aos códigos católicos, se atuam nas igrejas reformadas, se fazem profissão de fé nos terreiros de candomblé ou se militam em mesquitas muçulmanas ou sinagogas judaicas, ou ainda se alistam nas estatísticas de uma instituição espírita cristã, isso é de somenos importância.
Se possuem religiosidade, dispensam ter rótulo religioso.
Se fazem o bem, frequentar templos é mero detalhe.
Se os encontrares no teu caminho, ajuda-os na medida de tuas forças.
Colabora na amplificação da luz.
Onde eles não possam ir, vai tu no lugar deles.
Em breve, não serás um admirador, que é sempre uma posição estática.
Assumirás o lugar de um deles, que subiu para lugares mais altos e de lá te inspirará no bem a fazer, atravessando as veredas do mundo, falando pouco e agindo muito.
Assim se reconhecerão os verdadeiros amigos de Jesus.
Marta Riachão do Jacuípe, 12.03.2023 Centro Espírita Caminho da Redenção Mansão do Caminho Psicografia de Marcel Cadidé Mariano
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