Essas (maravilhosas) Mulheres, por Marcelo Henrique
Você pode não ficar incomodado, mas eu fico! Porque se fala “o” Deus, e não “a” Deusa, para se referir (patriarcalmente) à origem divina do Universo.
Você pode não ficar indignado, mas eu fico! Porque a religião cristã, derivada da judaica, concebeu como o ato mais importante da criação, a concepção da “imagem e semelhança” divinas, escolhendo um exemplar masculino, Adão e, dele, extraindo-se uma costela, fazer a mulher, Eva.
Você pode não ficar indisposto, mas eu fico! Porque a cristandade reconhece Jesus como o varão, filho unigênito do Pai, para a tradução da (sua) mensagem de amor para a Humanidade.
Você pode não ficar chateado, mas eu fico! Porque praticamente todas as filosofias e crenças da contemporaneidade se baseia em exemplares masculinos, como avatares e guias para a espécie humana, atemporalmente.
Você pode não ficar constrangido, mas eu fico! Porque o Espiritismo endeusa a figura masculina do Professor Rivail, na Europa contemporânea, pós-revolução francesa, cognominado Allan Kardec, e destinando à sua fiel e permanente companheira, Amélie-Gabrielle, um papel secundário de dona de casa e mera auxiliar, tanto nas atividades do sustento familiar, quanto na apresentação da Doutrina dos Espíritos para o seguir dos tempos.
Você pode não ficar saturado, mas eu fico! Porque, em se considerando a federação espírita brasileira como a entidade maior do movimento espírita no maior país espiritista do mundo, em seus 137 anos, jamais teve uma mulher à frente, como presidente da entidade.
Você pode não ficar contrariado, mas eu fico! Porque em termos de mediunidade e divulgação doutrinária espírita, os maiores expoentes sempre foram homens, mesmo que, quase que como obrigação, volta e meia, em uma ou outra efeméride, a porção espírita se veja forçada a lembrar desta ou daquela grande mulher que foi marcante em distintas áreas da atividade espiritual-espírita.
Quem são, então, as mulheres espíritas? E, em maior amplitude, o que é ser mulher num planeta de provas e expiações?
Reflitamos…
Porque agora, quando o mundo se estarrece com notícias vindas do Afeganistão, em que idólatras e fanáticos, movidos pela RELIGIÃO, subvertem a ordem social e atentam contra o Estado – além de instituições e pessoas – a figura da mulher surge, novamente, como vítima em um contexto deletério de uma Humanidade presa ao passado, com suas lendas e tradições, com sua precariedade moral, desafiando direitos humanos constituídos e consagrados, em um cenário que já deveria fazer parte de um longínquo (e detestável) passado de iniquidades.
O que temos, nós, espíritas brasileiros a ver com isso? Tudo, verdadeiramente! E ainda que você não se condoa com a dor alheia de pessoas e povos tão distantes, é preciso relembrar que a violência e o desrespeito à mulher são ocorrências diárias na “pátria do cruzeiro”. Quem sabe fosse melhor cognominar a nossa terra de “pátria do cruzado”, para lembrar – ao invés da formação estelar que nos consagra a bela e inspirada imagem do Cruzeiro do Sul – os lamentáveis atos cometidos em nome da religião, nas cruzadas que, junto à inquisição, também aniquilaram as mulheres pensantes e atuantes daqueles dias, as “bruxas”…
O “coração do mundo” anda ensanguentado e agonizante.
Senão, vejamos:
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Canais registram mais de 105 mil denúncias de violência contra a mulher em 2020 (BRASIL);
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Mais de um milhão de mulheres agredidas entre 1995 e 2015, sendo 56% negras (IPEA);
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Em meios de transporte, 97% das mulheres já foram vítimas de assédio (APG);
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No trabalho, 76% das mulheres já sofreram violência e assédio (APG);
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Uma mulher é vítima de estupro, no Brasil, a cada dez minutos (APG);
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A cada dia, três mulheres são vítimas de feminicídio (APG);
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Por hora, 30 mulheres sofrem algum tipo de agressão física (APG);
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A cada dois dias uma mulher trans ou travesti é assassinada em nosso país (APG);
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No transcurso da pandemia, uma em cada quatro mulheres foi vítima de algum tipo de violência no Brasil (DataFolha); e,
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Uma denúncia de violência contra a mulher a cada cinco minutos, em 2020 (Poder360).
Não, não são mulheres afegãs – como as que ilustram este nosso contundente artigo – mas mulheres brasileiras, “gente como a gente”, e poderiam ser a sua mãe, filha, esposa, irmã, amiga, colega de trabalho…
A dor de uma mulher brasileira é igual a de uma afegã, como a de qualquer outra mulher que está neste planeta, em mais uma jornada de conhecimento e progresso. E isto não pode ficar impune!
Se você, como cidadão do mundo, dá de ombros. Se você, como “cristão”, não manifesta solidariedade e empatia. Se você, espírita, continua achando que os problemas do mundo serão “sanados” com a “transição” do planeta para uma condição de “mundo regenerado”, como que por um passe de mágica, é bom REVER SEUS CONCEITOS.
É preciso, ainda que tardiamente para muitos, relembrar que a transformação social é o somatório das mudanças individuais e que a erradicação das injustiças e da violência é tarefa que compete a TODOS.
Dos cenários mais próximos aos distantes, das atividades mais comuns ou simples, às mais destacadas, seja em relação aos ambientes de nossos compromissos materiais, como o trabalho, a escola, o bairro, o país, tanto como nas atividades “religiosas” espíritas.
O conhecimento espiritual nos aponta para a noção de que, sendo fisicamente homens ou mulheres, nesta ou em outras existências, somos, em verdade, Espíritos e que as vivências nesta ambivalência são essenciais para a completude espiritual. Estando mulheres, as individualidades devem exigir o respeito e a igualdade plena, em todas as circunstâncias. Estando homens, o dever é, além da mais absoluta ciência do contexto e da aplicabilidade das leis divinas, agir para garantir que os direitos das mulheres não sejam, jamais, vilipendiados e, quando da existência de riscos ou danos, trabalhar pela recomposição e pela justiça!
Assim, sejam as mulheres afegãs ou as brasileiras, bem como toda e qualquer mulher terrena, que esteja sofrendo algum tipo de ameaça, violência ou diminuição de direitos, é dever de todo espírito espírita posicionar-se contrário a qualquer prática e envolver-se nas lutas e na defesa da mulher.
E dizer que somos gratos a cada uma dessas maravilhosas mulheres das nossas vidas, por elas existirem!
Por Marcelo Henrique – FONTE
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Fontes: Assessorias de Imprensa
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