LAPIDAÇÕES
Marta
Nem de longe é capaz o ser de prever o quanto lhe está destinado acontecer numa existência, seja ela curta ou dilatada.
Do berço ao túmulo, cada indivíduo experimenta sensações e atravessa vivências e acontecimentos que lhe são oportunos ao aprendizado.
Certamente que a grande maioria desejaria se antecipar a essas ocorrências, blindando-se contra os ferretes do sofrimento e os aguilhões da amarguras, quase sempre olvidando o ensino oculto nesses dissabores da existência.
A perda de algo caro leciona desprendimento.
Se se trata de uma pessoa querida, tem o condão de nos preparar para a nossa própria libertação, um pouco mais adiante.
Mesmo quando a infância foi assinalada por distúrbios e ocorrências traumáticas, é possível, após terapias e reflexões oportunas, converter os tempos difíceis em lições ricas de subsídios para uma maturidade equilibrada e fecunda.
Cada etapa da existência está marcada por ensinos que poderão se dar ou não, dependendo muito da conduta do ser perante a vida e a sua porosidade na absorção dos ensinamentos da vida.
Comportamentos turrões tendem a oferecer maior resistência às lições da existência, muitas vezes buscando na lamentação e no vitimismo a fuga da escola comum.
Se julgam abandonados pela divindade e barcos à matroca, como filhos bastardos da Excelsa Paternidade.
Por se fazerem resistentes, quais metais endurecidos, passam mais tempo no forno das lapidações necessárias, ali acrisolando valores imperecíveis para a ascensão, impossível de ser detida, conquanto possa ser embaraçada.
Se a criatura humana cultivasse mais o hábito das meditações oportunas, perceberia com maior lucidez…
Que a pessoa retirada de nossa convivência agora seria um grande transtorno em sua vida mais adiante.
A enfermidade inesperada serve como freio a disparates ou moderação nos abusos.
A carência leciona morigeração, o atrito ensina resiliência e a contrariedade, se bem aproveitada, pode ser alavanca de um salto no futuro não muito distante.
A lágrima refrigera os olhos, e o riso nem sempre traduz legítima alegria.
Cada coisa tem sua importância, cada acontecimento embute uma lição e as ocorrências contrárias aos interesses alimentados sinalizam que a Divindade tem opinião diferente da nossa.
Na maioria das orações petitórias, o orante exige e cobra dos divinos reservatórios o preenchimento daquilo que pode asfixia-lo.
Maldiz a falta de haveres que podem carrear severos prejuízos ao próprio estágio na matéria.
Sempre que buscava a solidão dos montes e dos bosques, Jesus entrava em comunhão com o Pai para se abastecer de energias novas, com as quais renovava a visão de muitos acerca das malhas do destino.
Se curou tecidos em decomposição de alguns, não os isentou de morrer mais tarde.
Renovando a pupila de invidentes, não os blindou contra a escuridão da noite moral, que se abatia naqueles dias e ainda vige nos tempos modernos.
Arrancou Lázaro do sepulcro, em Betânia, mas não o forrou contra a futura visita da morte.
