RENOVAÇÃO
Marta
Com a proximidade do Natal, incontáveis depoimentos dão conta que a data e o clima reinante parecem ferir-lhes a sensibilidade.
Uma melancolia parece invadir muitos corações. Outros, apresentam no olhar uma tristeza indefinível. Mais alguns alegam que as pessoas se fazem falsas, artificiais, desejando a amigos e parentes aquilo que nunca disseram durante o restante do ano em extinção no calendário das agonias.
Sim, reconhecemos que o período tende a mexer com as emoções de muitos, conquanto nem todos se vejam ou se sintam da mesma forma sensibilizados. Uma espécie de desaceleração se dá em muitas vidas, predispondo-as às reflexões. A música de harpa, os cânticos de Natal trazem aos tímpanos certo descanso das batidas psicodélicas experimentadas ao longo de onze meses.
Depois de alguma saudação ligeira, mesmo que seja dos lábios para fora, alguém nos diz rente aos ouvidos: Feliz Natal e próspero ano novo!
Para outros milhões, são tempos de loucura e agitação. Comércio em crescente ansiedade por desovar o estoque acumulado, já prevendo o consumidor de última hora. O funcionário a fazer horas extras intermináveis, agregando no corpo o cansaço de dias e noites no atendimento de clientes intragáveis e exigentes.
O sonho de chegar em casa e atirar o organismo na cama, buscando dilatadas horas de sono refazente. Alguns profissionais passarão a data na estrada. Médicos em plantões tumultuados, policiais em diligências difíceis, onde o espírito do Natal parece não ter chegado.
Em alguns núcleos familiares a noite natalina poderá acirrar os ânimos, gerando momentos difíceis e amargos.
Tudo isso e muito mais ocorre sem que sequer saibamos, salvo aquelas tragédias que chegam na imprensa ou nas redes sociais, com a velocidade do raio, gerando espanto e medo, mas não é essa a proposta nem o clima desse período sensível do ano.
Um acontecimento dessa magnitude deveria ser um marco na vida dos cristãos. Perceber que não inserimos a data para troca de presentes ou pronunciamento de frases de efeito, tão comuns nesses dias.
Poderia e deveria ser tomado o Seu ingresso na matéria como um acontecimento excepcional, onde um fascículo de luz veste carne para estar conosco. Vem buscar na convivência conhecer nossos dramas e ansiedades, espalhando consolação e esperança. Palmilhando a mesma estrada, nos assegurou qual a direção certa.
Nos escutando, nos disse frases de coragem e entendeu nossas buscas, por mais infantis que elas fossem ou sejam. Éramos pigmeus no entendimento e pequenos no comportamento moral, mas a ninguém Ele julgou ou fez rastejar no pó da inferioridade ética. Nos alentou com Sua presença, contou histórias de otimismo e nos fez acreditar em nossos potenciais latentes.
Éramos e ainda somos sementes promissoras, e Ele segue sendo o Divino Jardineiro, recomendando a cada um que floresça onde Deus o situou.
De homens-espinhos e mulheres-cactos, Ele aproveitou o que tínhamos de melhor, sugerindo tolerância e paciência no trato com os diferentes.
Por isso mesmo Seu nascimento dividiu a história e mudou o curso dos milênios. Sua mensagem mexe por dentro, nunca por fora. Não se prende a exterioridades nem se aprisiona em ruidosas festas, onde nem sempre o coração participa. O Natal deveria ser o momento do silêncio que medita, do abraço que acolhe, da semeadura da amizade, do resgate do afeto e do recomeço de uma nova história, mesmo que esteja assinalada por lágrimas que o mundo não vê ou não quer enxergar.
Reergue-te do pessimismo e desperta como o dia novo, pós madrugada de sombra densa. Acende em tua alma a chama da esperança. Autoriza que a estrela do Natal penetre em tua casa mental pelos vitrais da prece sentida, demorada, onde possas te abrir em espírito ao convite do menino Jesus.
Escuta, na noite do nascimento D’Ele, o cântico dos anjos, proclamando Glória a Deus nas alturas e paz na Terra a homens e mulheres de boa vontade!
Torna-te carta viva do Evangelho!
Não é necessário que assumas o papel do pierrot ou da colombina, mas podes ser, na vida de alguém em derrocada emocional, o suporte da alegria e a alavanca da fé.
Natal é Jesus nascendo e renascendo dentro de cada um. O que ocorrer fora é detalhe menor.
Vai! Toma uma decisão!
Nunca esperaste pelo Natal. Sempre foi o Natal que esperou por ti.
Eis o momento decisivo em tua jornada pelo mundo.
Marta
Salvador, 22.12.2023
Centro Espírita Caminho da Redenção
Mansão do Caminho
Psicografia de Marcel Cadidé Mariano
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