Tempestades íntimas e convulsões emocionais obrigam a rever posições
Periodicamente, o ser é visitado por tempestades íntimas e convulsões emocionais que o obrigam a rever posições diante de si mesmo e da vida em comunidade.
O estacionamento num aparente mar da tranquilidade conspira contra a ascese que deve ser uma constante na trajetória iluminativa do Espírito imortal. Zona de conforto pode indicar estagnação e sinalizar que o viajante da evolução teme sair da conveniência em que as circunstâncias o colocaram.
Por isso mesmo, quando o quadro pareça estável e as águas do mar da vida surjam plácidas e tranquilas demais deveria o aprendiz se preocupar, mas por comodismo e receio de perder o que conquistou até ali, o indivíduo congela as forças e desmotiva-se em prosseguir para horizontes mais dilatados.
A crise surge. As tempestades varrem as paisagens interiores com fúria descomunal. As convulsões internas desalojam o paralítico por opção e este, de maneira constrangida, se vê obrigado a sair da caverna onde congelou os próprios sonhos.
Há muito mais além.
Campos vastos e estradas jamais percorridas surgem como impositivo da marcha.
Experiências novas vergastam o terreno dos sentimentos e emoções nunca experimentadas aparecem no campo do afeto, desestruturando uma atmosfera psíquica para construção de uma outra em seu lugar.
A desilusão surge para recolocar o comboio do afeto nos trilhos da verdade. Só se desilude quem se iludiu.
A frustração aparece para lecionar persistência.
A morte de entes queridos força o desapego de afetos em cujos círculos de permuta nos tínhamos tornados tiranos ou dependentes.
As tempestades nos céus das emoções surge como varredura de estranhas nuvens de dominação afetiva, sejam onde figuremos como senhores ou como vassalos, dominando vidas ou por elas estejamos rastejando no chão da subserviência doentia, sendo oportuna alforria que nem sempre é entendida de pronto.
Ainda muito apegados a valores transitórios, costuma-se encarar as ditas ocorrências como reveses ultrajantes, ira divina e sina do destino, muitos considerando que a Divindade nos situou no mundo tão somente para sermos cobaias no laboratório das experiências infelizes ou desventuradas.
Poucas ou raras vezes se enxerga a utilidade oculta da dor e do sofrimento, qual ferramenta sutil do destino, nos alijando de fardos inúteis e cargas sem utilidade para nossa marcha em direção aos cimos da vida.
Que dirá o possuidor de imensos haveres, despojado dos mesmos ante um golpe certeiro da vida? Hoje num palácio, amanhã numa choupana.
E aquele outro que atravessava décadas de saúde robusta, inexpugnável às enfermidades, agora lutando contra patologias oportunistas e limitações orgânicas que surgiram sem aviso prévio?
Quantas vidas aparentemente regidas por um concerto sinfônico de harmonia duradoura, e de repente, surge a morte e furta um afeto, o desequilíbrio rompe na constelação familiar, a tragédia financeira e a situação invejável se converte em amargura e desolação. Qualquer um levantará críticas e indagações aos poderes divinos, questionando porque foram sorteados na roleta do infortúnio.
Tudo isso deriva da limitada compreensão da vida, quando não se enxerga nem se admite a imortalidade da alma, apontando que viemos de um ontem longínquo, fadados a um porvir de felicidade.
A precária cultura religiosa, ainda em vigência abundante na Terra, tem situado Deus na condição de um ancião que ora distribui balas e confeitos aos filhos obedientes, ora agita no dorso dos ingratos e revoltados o flagelo da correção impiedosa, destinando alguns poucos ao reino dos céus e a grande maioria ficará sob controle e vigilância da concorrência.
A Terra se converte num vale de ossos e lágrimas, sem que o ser saiba porque sofre.
Felizmente, uma nova proposta surge nos limitados horizontes do pensamento materialista atual, ensejando sadias reflexões acerca da continuidade da vida após o sepulcro. Provas irrefutáveis dão conta ser o palco terrestre simples cenário de nosso teatro, onde tragédias, dramas e comédias ocorrem todos os dias, mas nenhum ator ou atriz se perde no ato em que estagia.
Muda o figurino, mas o artista é o mesmo. Adereços e vestuário podem ser outro, mas a peça da vida nunca cessa e cada um responde unicamente por sua atuação.
O diretor da peça não tem interesse em reprovar ninguém, mas em aproveitar cada dublê no melhor que ele saiba fazer.
O bem é valorizado.
O mal é simples passagem pelo aprendizado, onde a ignorância toldava a capacidade de enxergar mais além.
Recorda quantas tempestades até aqui enfrentastes. E vencestes todas elas.
Quantas convulsões sacudiram teu mundo íntimo e na ocasião admitiste o fim de tudo.
Ledo engano.
Saíste todo quebrado, colaste teus pedaços e aí estás, contando tua história a quem se dispuser a ouvir.
Abandona essa lamentação improdutiva, lança no rio da vida essa madeira podre da vitimização, rompe a casca desse ovo em que te refugias, com receio de tomar contato com o imenso galinheiro de tantas vidas e corrige a miopia de teus olhos, onde te situavas como sol clareando existências outras.
És iluminado pelo foco divino. Jesus, teu guia e modelo.
E o outro, teu colega de sala, igualmente em lutas e provas, buscando entender tempestades e convulsões como ciclos naturais da vida, gerando caos num momento e bonança no momento seguinte.
É assim que se cresce.
Marta Recife, 20.02.2023 Centro Espírita Caminho da Redenção Mansão do Caminho Psicografia de Marcel Cadidé Mariano