TECNOLOGIA E DESMONTE
A quem possua um maior discernimento não passará desconhecido o volume colossal de transformações pela qual atravessa o planeta, convulsionado em suas entranhas e agitado em suas metrópoles.
Uma velha e corroída civilização, feita de descaso, indiferença e podridão moral vai vivendo seus estertores e espasmos em pleno século das luzes, onde as glórias do pensamento parecem não encontrar fronteiras.
E enquanto a ciência e a tecnologia fascinam a atual geração, uma outra assiste o desmonte de velhas estruturas, que parecem vigas podres, a estalarem ao sopro de ventos raivosos.
Num passado muito distante, Cartago, situada no norte da África e edificada pelos antigos fenícios, lendários navegantes, foi considerada por Roma como sua principal inimiga e Catão, arrebatado por incontida fúria contra a cidade concorrente, fixou-se na ideia de a eliminar do mapa.
Na terceira guerra púnica, o general Cipião a destruiu completamente, praticando um dos mais vergonhosos genocídios da história e salgando as terras aráveis para que nelas nada mais brotasse.
Em tempos mais recuados, Ciro, rei dos persas, marchou pelo desfiladeiro das Termófilas e invadiu Sardes, a rica capital da Lídia, escravizando seu monarca, Creso, e reduzindo a nação a mísera colônia persa.
A Grécia, em suas intermináveis rivalidades intestinas, especialmente entre Atenas e Esparta, permitiu o enfraquecimento do mundo grego e macedônicos e romanos, cada um a seu tempo, colocaram o fabuloso império abaixo, reduzindo ambas as cidades a um amontoado de pedras.
O Egito, a Babilônia, a nação judaica e outras culturas do pretérito igualmente viveram seu apogeu e consequente declínio, hoje páginas amareladas da história.
Terras em ruínas.
Em dois mil anos de evolução, considerando do Cristo para nossos dias, o esforço não tem sido menor.
Terras verdejantes foram calcinadas por guerras hediondas, incêndios criminosos reduziram vilarejos a cinzas e milhões de homens e mulheres foram conduzidos à noite triste do cativeiro.
A cultura sucumbiu num momento para reaparecer noutro instante histórico.
A religião impôs os caminhos da salvação ou da perdição espiritual, hoje reduzida a templos onde a fé cambaleia entre a crença cega e a convicção claudicante.
Filosofias surgem de manhã, se agitam ao meio dia e fenecem ao cair da tarde, desidratadas por ausência de substância espiritual.
O existir antes do berço é tomada como fantasia e o sobreviver após a anóxia se afigura ao mundo acadêmico como hipótese não considerada.
E qual náufrago em pleno oceano, após naufrágio da embarcação materialista, o ser se agarra em desespero a qualquer pedaço de isopor ou madeira que flutue nas águas geladas das próprias incertezas, temendo afundar de vez no escuro oceano das inquietações.
De onde veio? Não sabe responder nem deseja travar contato com a verdade, para não perder o ilusório comando da matéria precária.
Por que sofre? Porque desconhece as divinas leis, onde prêmio e castigo não encontram guarida, reservando a cada um simplesmente o fruto da própria sementeira.
Para onde vai depois da morte? Os desgraçados, em antevendo a condenação eterna nas geenas, deixam-se levar pelas torpezas de caráter, mais afunilando a própria desventura, e os eleitos, incluídos nas frias estatísticas das religiões formais suspiram por um céu estanque, onde o ócio contemplativo lhes seja prêmio à crença sem trabalho.
Terra em ruínas.
Escombros morais.
Entulhos teológicos por toda parte.
Lepromas emocionais como marcas do descaso para o Espírito que se é, submetido à cápsula orgânica para o desiderato da evolução.
Leituras ligeiras, como se o conhecimento da verdade pudesse ser adquirida por osmose.
Fuga da discussão filosófica, onde pontos de vista contraditórios sejam colocados na arena dos embates saudáveis, buscando a lógica e o bom senso.
Em tempos de transição como a que estamos experimentando, o planeta parece uma fornalha, testando a fibra dos metais. Busca por resiliência. Pessoas pontes. Menos antagonismos e mais diálogo.
Drenagem dessa intolerância vergonhosa, onde a perseguição sistemática ao pensamento divergente se faz verdugo hostil do livre pensar.
A política assaltada por mentes astutas e oportunistas, atentas aos egóicos interesses, indiferentes à miséria material e financeira que consome milhões, a estertorarem no abandono total.
Ruínas de uma cultura que se esfarela ao sopro da renovação.
Da vida imortal, legiões incontáveis de almas redimidas e seres angélicos se avizinham da Terra em transe, buscando inspirar o bem e a fraternidade. Outros, em breve respirarão outra vez no escafandro carnal, inoculando vida nova nas estruturas morais e sociais em soçobro.
Compete aos filhos da grande luz abraçarem a verdade, qual sol de rutilante beleza, a dissolver nessa manhã primaveril as sombras da noite teimosa, que insiste em remendar os pedaços da ruína avançada, tentame inútil diante da vontade do Cristo, a cujas rédeas de amor estamos todos vinculados, desde o ontem longínquo até o futuro sem fim.
Porfiemos, otimistas e cheios de bom ânimo!
Jesus vela.
Leon Denis e Marta
Cidade do Salvador, 28.09.2023
Centro Espírita Caminho da Redenção
Mansão do Caminho
Psicografia de Marcel Cadidé Mariano
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