Estou cansado da religião dos chefs: restaurantes não são santuários...
Texto perfeito do João Pereira Coutinho. Faço dele as minhas palavras. O que era bom piorou justamente por algumas dessas criaturas que resolveram “reinventar” a arte de comer através de pratos ditos “sofisticados”, com uma miséria de comida dentro em pratos ultra decorados e, no final das contas, que são caríssimas, você não tem a menor ideia do que comeu. Se eu quero comer bem, de fato, vou a restaurantes que possuem chefs de verdade a exemplo do caríssimo Fernando Becker do Restaurante Primrose no Castelo Saint Andrews em Gramado/RS, que já deveria  estar no Guia MICHELIN, ao Porto Guará na Praia de Cacupé, do grande Chef Helton Costa, ao Famíglia Guimarães, em Gramado/RS, do Chef Guimaraes Nascimento, ao Sapore Di Pasta, na Praia do Rosa/Imbituba/SC, aos cuidados do Chef Alejandro Alvarez, Restaurante Lá Querência do  Rio do Rastro Eco Resort (Roteiros de Charme do Brasil), sob a batuta do Chef Jesus Licurgo Coelho Rocha e,  finalmente, na cereja do bolo, o Restaurante Volver, lá no Fim do Mundo, em Ushuaia/Tierra del Fuego/Antártida, do Cocinero (não gosta de ser chamado chef), Lino Adilon. Lá, onde frequento a mais de 15 anos, você encontra figuras do jet set internacional que nem vou comentar. Todavia, o restaurante continua o mesmo, com seu excelente atendimento, simplicidade, carinho e respeito. A comida então, (tem de tudo), é algo fora do comum. Já ia me esquecendo do La Mesita de Almanza, quase dentro do Canal de Beagle. Escolha ir de helicóptero, uns 20 minutos de voo beirando a Cordilheira dos Andes. Mais rústico impossível e, o Vulcão de Ceentolla é de comer ajoelhado. Do outro lado do Canal você observa o Chile. 

“Restaurantes não são santuários”

Estou cansado da religião dos chefs: restaurantes não são santuários...
Estou cansado da religião dos chefs: restaurantes não são santuários… – Ducasse – Paris
Este texto é dedicado ao “Chef” Avilez, que estragou dois magníficos restaurantes, o Tavares e, principalmente, o Belcanto. E como esta praga não é nacional apenas, dedicado também ao Alain Ducasse, que assassinou em tempos o magnífico Louis XV, o restaurante (emblemático) do Hotel de Paris, em Monte Carlo. Felizmente, neste caso, pelo menos continua a magnífica garrafeira.
Estou cansado da religião dos chefs: restaurantes não são santuários…
O melhor restaurante do mundo?
Ora, ora: é o Eleven Madison Park, em Nova York. Parabéns, gente. A sério. Espero nunca vos visitar. Entendam: não é nada de pessoal. Acredito na vossa excelência.
Acredito, como dizem os críticos, que a vossa mistura de “cozinha francesa moderna” com “um toque nova-iorquino” é perfeitamente comparável às 72 virgens que existem no paraíso corânico.
Mas eu estou cansado da religião dos chefs.
Vocês sabem: a elevação da culinária a um reino metafísico, transcendental, celestial.
Todas as semanas, lá aparece mais um chef, com a sua igreja, apresentando o cardápio como se fossem as sagradas escrituras.
Os ingredientes não são ingredientes.
São “elementos”.
Uma refeição não é uma refeição.
É uma “experiência”.
E a comida, em rigor, não é comida.
É uma “composição”.
Já estive em vários desses santuários.
Quando a comida chegava, eu nunca sabia se deveria provar ou rezar.
Os meus receios sacrílegos eram acentuados pelo próprio garçom, que depositava o prato na mesa e, em voz baixa, confidenciava o milagre que eu tinha à minha frente:
– Pato defumado com pétalas de tomate e essências de jasmim.
Escutava tudo com reverência, dizia um “obrigado” que soava a “amém” e depois aproximava o garfo trêmulo, com mil receios, para não perturbar o frágil equilíbrio entre as “pétalas” e as “essências”.
Em raros casos, sua santidade, o chef, aparecia no final.
Para abençoar os comensais.
No dia em que beijei a mão de um deles, entendi que deveria apostatar.
E, quando não são santos, são artistas.
Um pedaço de carne não é um pedaço de carne.
É um “desafio”.
É o teto da Capela Sistina aguardando pelo seu Michelangelo.
Nem de propósito: espreitei o site do Eleven Madison Park.
Tenho uma novidade para dar ao leitor: a partir de 11 de abril, o Eleven vai fazer uma “retrospectiva” (juro, juro) com os 11 melhores pratos dos últimos 11 anos.
“Retrospectiva.”
Eis a evolução da história da arte ocidental: a pintura rupestre de Lascaux; as esculturas gregas de Fídias; os vitrais da catedral gótica de Chartres; os quadros barrocos de Caravaggio; a tortinha de quiche de ovo do chef Daniel Humm.
Gosto de comer.
Gosto de comida.
Essas duas frases são ridículas porque, afinal de contas, sou português.
E é precisamente por ser português que me tornei um ateu dos “elementos”, das “composições” e das “essências”.
A religião dos chefs, com seu charme diabólico, tem arrasado os restaurantes da minha cidade.
Um deles, que fica aqui no bairro, servia uns “filetes de polvo com arroz do mesmo” que chegou a ser o barômetro das minhas relações amorosas: sempre que estava com uma namorada e começava a pensar no polvo, isso significava que a paixão tinha chegado ao fim.
Duas semanas atrás, voltei ao espaço que reabriu depois das obras.
Estranhei: havia música ambiente e a iluminação reduzida imitava as casas de massagens da Tailândia (aviso: querida, se estiveres a ler esta crônica, juro que nunca estive na Tailândia).
Sentei-me.
Quando o polvo chegou, olhei para o prato e perguntei ao dono se ele não tinha esquecido alguma coisa.
“O quê?”, respondeu o insolente.
“O microscópio”, respondi eu.
Ele soltou uma gargalhada e explicou: “São coisas do chef, doutor.”
“Qual chef?”, insisti.
Ele, encolhendo os ombros, respondeu com vergonha: “O Agostinho”.
O cozinheiro virou chef e o meu polvo virou calamares.
Infelizmente, essa corrupção disseminou-se pela pátria amada.
Já escrevi sobre o crime na imprensa lusa.
Ninguém acompanhou o meu pranto.
É a música ambiente que substituiu o natural rumor das conversas.
É a iluminação de bordel que impede a distinção entre uma azeitona e uma barata.
É o hábito chique de nunca deixar as garrafas na mesa, o que significa que o garçom só se apercebe da nossa sede “in extremis” quando existem tremores alcoólicos e outros sinais de abstinência.
Meu Deus, onde vamos parar?
Não sei.
Mas sei que já tomei providências: no próximo outono, tenciono aprender a caçar.
Tudo serve: perdiz, lebre, javali.
Depois, com uma fogueira e um espeto, cozinho o bicho como um homem pré-histórico.
O pináculo da civilização é tortinha de quiche de ovo do chef Daniel Humm?
Então chegou a hora de regressar às cavernas de Lascaux…”
Texto de João Pereira Coutinho – Fonte: FOLHA/UOL
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